Bem me quer
Lido
aqui. E não posso deixar de concordar mais:
"Enquanto acabo de desfiar o bacalhau, percebo que este Papa, velhinho e débil, que tanta gente elogia por ser um homem do mundo - uma espécie de Lady Di, vestida de branco, que saíu do Vaticano e se fartou de viajar-, não passa de um imbecil, incapaz de compreender o mundo. De um assassino que, com a sua posição sobre o uso do preservativo, já matou mais gente do que Hitler ou Estaline."
Diz de tua justiça:
prova final
Natal é união: 667 lojas e 9.230 vagas para estacionamento.
Pessoas marchando da esquerda para a direita da direita para a esquerda enquanto escrevo oculta por uma gigantesca árvore do shopping. Nada em mim lhes chama a atenção porque não sou de néon, não estou vendendo nada e daqui a pouco me mando pois é proibido fumar. Porém o garçom da birosca chique ao lado sabe bem onde estou, e não erra uma. Ele enche meu copo pela sexta vez e não tenta puxar assunto.
Natal é união e é assim que começo meu texto de encomenda nesta tarde de quarta-feira. Eu poderia rabiscar palavras bonitas para embrulhar pensamentos harmônicos e quem sabe presenteá-los ao leitor, mas o celular toca e alguém diz que não vai aparecer porque a cidade está uma loucura e o trânsito, um inferno.
Ergo o copo e vejo a adolescente amuada fechando o celular e guardando na bolsa. Ela se atrapalha com as sacolas de grife, sussurra merda e afasta-se trincando o piso. Já terei ido embora quando ela voltar mais uma vez sozinha para tomar a mesma cerveja quente enquanto espera pelos netos. Minha caneta começa a falhar a tinta e não tenho uma extra. Precisaria comprar.
Comprar.
Natal é união e parece que não consigo sair da mesma frase, que é um pensamento simples, qualquer um pode entender. Ao contrário do que imaginava, o excesso de cerveja está me deixando sóbria, não gostaria de ficar sóbria até o ano-novo, esta é que é a verdade.
Talvez o problema seja da cerveja. Chamo o garçom e peço chopp. O shopping está um forno e meu braço gruda na mesa. A mesa é sólida e o shopping é de cimento armado. Não há janelas. Navios não passam. Há um elevador separando cidade e oceano. Os corpos curvados que passam na minha frente parecem saber que o Natal é união, eu é que perdi o detalhe. 17:45 da tarde de quarta-feira. Falta uma semana para o dia 24 e duas para o ano-novo. Se eu continuar escrevendo desse jeito o sentimentalismo vai empoeirar tudo e o leitor vai pedir pra trocar. Mas minhas palavras não aceitam devolução.
Ligo para a revista, ocupado. Pago a conta, jogo a caneta no lixo e do lado de fora uma noite cansada se despede do calendário.
Feliz Ano Novo
Diz de tua justiça:
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.
Nuno Júdice
Diz de tua justiça: