Bem me quer
Tuesday, July 20, 2004
  Estou sentada na minha cadeira de couro velha, que pertenceu ao meu avô.
 
Uma cadeira que conta histórias e esconde certamente segredos. Sempre quis esta cadeira, talvez porque represente força, sabedoria - não sei.
 
Sempre a desejei. Quando era miúda ía ter com o meu avô ao escritório. Ele sentava-me no seu colo e rodava-a, e eu queria saber os pensamentos que ela escondia. Tantas decisões tomadas, tantos problemas resolvidos, tantas notícias dadas - sentado nesta cadeira. Uma cadeira velha e gasta e caduca.
 
Lembro esconder-me debaixo da secretária a ler O Principezinho. Admirava a grandeza desta cadeira, enquanto detestava aqueles homenzinhos prepotentes, sentados naqueles planetas minúsculos. E adorava a rosa e a raposa. Durante muito tempo pensava que teria uma raposa. Afinal, até tive. O meu pai era caçador e uma vez matou uma.Mandou embalsamá-la e deixou-a no escritório do meu avô; depois sucederam-se as cabeças de veado, as peles curtidas...
 
Aqueles olhos que pareciam vivos assustavam-me e só ía ao escritório para espreitar de mansinho a cadeira que eu sabia pertencer-me. Imaginava-me sentada nesta cadeira a exercer ordens como o meu avô, imaginava-me crescida. Bem, sentada nela os meus pés não chegavam ao chão...
 
Quando os meus avós morreram a cadeira foi oferecida ao meu pai - fiel amigo e companheiro da caça aos tordos. Passavam dias nas coutadas do sul, ao volante do velho Patrol - ainda existe, está na garagem, todo podre, a cair de velho, mas continua a ser uma relíquia - as histórias que ele guardará...
 
Bem, não sei porque vos conto isto, talvez porque estou com algum tempo. Estou em casa. Ouço a Orquestra de Varsóvia com  José Cura - este homem não canta com o coração, canta com a alma.
 
Enfim, preparo-me para mais uma tarde de consultas, intervaladas com algumas pesquisas na net, alguns cigarros pensativos (ao bom estilo do Eça) e um ou outro café. Há tempo! Não tenho assim muitos pacientes, até porque sou ainda novata, nem consultas dou todos os dias.
 
Há tempo. Tempo a mais, por vezes.
 
 
Diz de tua justiça:

Wednesday, June 23, 2004
 blogues muito bons. Há blogues assim assim. Há blogues que são mauzinhos. Há blogues de psicopatas, que só linkam blogues feitos por mulheres. Há blogues que são mesmo muito maus, cheios de lugares comuns, filosofia barata de engate e principalmente, cheios de prosápia e de egos inchados, como este aqui.

 

Diz de tua justiça:

Saturday, June 19, 2004
  tic tac tic tac*

dorme-se até à hora proibida, dorme-se para lá do permitido. ter que ir a algum lado é sempre consequência do já ter que lá estar. chego tarde. nunca estou onde me esperam. na verdade, raro sei onde me esperam.

 

Diz de tua justiça:

Tuesday, May 18, 2004
  Eu sei, tenho andado sem tempo para escrever. Leio o que por aí vai, mas pouco mais do que isso. Trabalho a mais, cheiro a Verão, preguiça mental, tudo tem sido pretexto para uma inactividade que se quer curta. A ver vamos se é para a semana que isto volta a arrancar! :D 
Diz de tua justiça:

Tuesday, March 02, 2004
  Estou como ela. É o cansaço. E estou no lugar extremo do silêncio. 
Diz de tua justiça:

  Anoche

E a noite, o que é? É o respirar mais lento dos teus seios pesados, é a linha escura do teu púbis ser um posto fronteiriço entre o vazio e o deserto, um traço vertical em cujo interior rebrilha, milagrosamente, um desejo de veludo, húmido, picotado pelo tremeluzir de uma noite antiquíssima, subitamente friável.
 
Diz de tua justiça:

Wednesday, February 18, 2004
  Ábside

amar-te
é das minhas mãos fazer as tuas

amar-te
é separar-te
com o agudo do meu vértice em duas
 
Diz de tua justiça:

  Alguém devia explicar à Opus Gay que a lei de adopção existe para servir as crianças, não existe para servir os direitos dos homossexuais. 
Diz de tua justiça:

Wednesday, January 21, 2004
  Alerta!

Creio que foi Richard Rorty que escreveu, no início dos anos oitenta, que "há pessoas que escrevem como se só existissem textos". Alerto para o facto de haver, hoje em dia, muita gente que bloga como se só existissem blogues na vida. Às vezes, passo por vários blogues e reconheço a tendência, o germenzinho, a picardia involuntária, a moenga imaculada, a nódoa embevecida, a lamúria ressentida, o escárnio deliberado, o ardor incontinente, a resposta desnudada, a guerrinha vitoriosa, a verve viscosa e a remissão pouco alterada. Fico pasmado, sorrio, relembro cenas exultantes e aceno por fim com ambas as mãos a bater palmas a tanta ventania, embora saiba de cor (i.e., pelo coração) que a vida continua. Mesmo aqui, na íntima e prolixa rede dos blogues. 
Diz de tua justiça:

  Tal como ele, tambem eu poderia fazer a minha lista musical. Poderia, mas não a faço; é tudo ainda muito doloroso. 
Diz de tua justiça:

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